Bento XVI recordou na última sexta-feira, 12 de setembro, na França, que o canto litúrgico deve estar à altura da Palavra que lhe foi confiada.
Ao falar a expoentes da cultura francesa, no Collège des Bernardins, o Papa destacava o vínculo entre o monaquismo e as raízes da cultura européia.
Bento XVI afirmou que, desde sua origem, os mosteiros se configuraram como os lugares onde “sobreviviam tesouros da velha cultura e onde, a partir deles, ia-se formando pouco a pouco uma nova cultura”. Enfatizando que a intenção dos monges não era “criar uma cultura”, o Santo Padre disse que sua motivação “era mais elementar: quaerere Deum, buscar a Deus”. “Na confusão de um tempo em que nada parecia ficar em pé, os monges queriam dedicar-se ao essencial: trabalhar com perseverança pelo que vale e permanece sempre, encontrar a própria Vida.” | |
Eles “buscavam a Deus. Queriam passar do secundário ao essencial, ao que é apenas e verdadeiramente importante e confiável. Disse-se que sua orientação era ‘escatológica’. Que não há que entender em sentido cronológico do termo, como se mirassem ao fim do mundo ou à própria morte, mas existencialmente: detrás do provisório, buscavam o definitivo”.
Segundo o Papa, como eram cristãos, os monges não trilhavam uma expedição “por um deserto sem caminhos, uma busca para o vazio absoluto. Deus mesmo havia colocado sinais pelo caminho, inclusive havia traçado um caminho, tratava-se de encontrá-lo e segui-lo”.
“O caminho era sua Palavra, que, nos livros das Sagradas Escrituras, estava aberta diante dos homens. A busca de Deus requer, pois, por intrínseca exigência, uma cultura da palavra”, afirmou o pontífice.
Pelo fato de que, na Palavra bíblica, Deus esteja a caminho de nós e nós a Ele, é necessário “aprender a penetrar no segredo da língua, compreendê-la em sua estrutura e no modo de expressar-se”.
Posto que a busca de Deus exige a cultura da palavra, o Papa destacou que os mosteiros têm servido à formação e à erudição do homem, “uma formação com o objetivo último de que o homem aprenda a servir a Deus”.
“Por isso, comporta evidentemente também a formação da razão, da erudição, pela qual o homem aprende a perceber entre as palavras, a Palavra.”
“Para captar plenamente a cultura da palavra, que pertence à essência da busca de Deus, temos de dar outro passo. A Palavra que abre o caminho da busca de Deus é ela própria o caminho, é uma Palavra que mira à comunidade.”
“A Palavra não é um caminho apenas individual de uma imersão mística, mas introduz na comunhão com quantos caminham na fé.”
Há ainda outro passo, segundo Bento XVI: “a Palavra de Deus nos introduz em conversação com Deus. O Deus que fala na Bíblia nos ensina como podemos falar com Ele”.
Isso tudo evidencia, segundo o Santo Padre, que “a Palavra de Deus nos alcança apenas através da palavra humana, através das palavras humanas, quer dizer, Deus nos fala apenas através dos homens, mediante suas palavras e sua história”.
Segundo Bento XVI, “o cristianismo capta nas palavras, a Palavra, o próprio Logos que irradia seu mistério”.
Nesse sentido, o Papa recordou que, para orar com a Palavra de Deus, “apenas pronunciar não é suficiente, requer-se a música”.
“Em São Bento, para a pregação e para o canto dos monges, a regra determinante é o que diz o Salmo: Coram angelis psallam Tibi, Domine - Na presença dos anjos eu vos cantarei (cf. 138, 1).”
“Aqui se expressa a consciência de cantar na oração comunitária na presença de toda a corte celestial e, portanto, de estar expostos ao critério supremo: orar e cantar de modo que se possa estar unidos com a música dos Espíritos sublimes que eram tidos como autores da harmonia do cosmos, da música das esferas.”
“Os monges, com sua pregação e seu canto, hão de estar à altura da Palavra que lhes foi confiada, a sua exigência de verdadeira beleza”, considerou Bento XVI.
É dessa “exigência intrínseca de falar e cantar a Deus com as palavras dadas por Ele que nasceu a grande música ocidental”.
“Não se tratava de uma ‘criatividade’ privada, na que o indivíduo ergue a si mesmo como um monumento, tomando como critério essencialmente a representação do próprio eu.”
“Tratava-se de reconhecer atentamente com os ‘ouvidos do coração’ as leis intrínsecas da música da própria criação, das formas essenciais da música, postas pelo Criador em seu mundo e no homem, e encontrar assim a música digna de Deus, que, ao mesmo tempo, é verdadeiramente digna do homem e indica de maneira pura sua dignidade”, disse o Papa.
Fonte: ZENIT