O padre Marcelo Rossi é o mais novo alvo de seqüestro do Primeiro Comando da Capital (PCC), facção criminosa que domina o sistema carcerário paulista. A intenção do crime seria promover retaliações às ações do governo estadual de combate ao crime organizado, que mantêm isolados em presídios de segurança máxima os líderes da organização.
Foi o próprio governador Geraldo Alckmin quem ligou, há cerca de duas semanas, para o pároco, a fim de alertá-lo sobre a ameaça. Investigações feitas pela polícia confirmaram que a rotina do padre estava sendo rastreada pelos criminosos que iriam seqüestrá-lo. O nome de Marcelo Rossi seria o primeiro de uma lista de quatro pessoas que o PCC pretende atacar. | |
Ciente do perigo, o padre não fica mais nenhum minuto sozinho. O JT apurou que Rossi está andando com uma escolta revezada de oito policiais à paisana disponibilizados pela Secretaria de Segurança Pública. Suas visitas a doentes em hospitais, suas missas e mesmo suas entrevistas a jornalistas estão sendo observadas por seguranças.
Na quarta-feira, dia 03 de setembro, à noite, o padre trafegava pela Zona Sul quando teve seu carro fechado por um Escorte. Os ocupantes do veículo tentaram, mas não conseguiram interceptá-lo. Rossi tem dito a amigos próximos que teme que todos os seus hábitos e caminhos tenham sido levantados por estranhos.
Há alguns dias, Francisco, o motorista de Marcelo Rossi recebeu uma ligação estranha. Assim que ele atendeu o celular, uma voz masculina disse: "Esse é o celular do chofer do padre Marcelo Rossi".
Simultaneamente ao telefonema de Alckmin ao padre, o JT recebeu uma carta de oito páginas informando que criminosos coligados ao PCC e ao Comando Vermelho (CV) estariam planejando ataques a juízes, diretores de presídios, deputados, senadores e religiosos. Entre as possíveis vítimas, há "três cardeais e arcebispos de três Estados diferentes: São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais". O remetente relata que, desde o dia 22 de agosto, tem enviado mensagens a diversas autoridade, mas que, até o momento, não foi procurado por nenhuma delas para relatar o que sabe sobre os criminosos.
Na carta, o autor fornece seu nome verdadeiro, número da identidade e o local onde pode ser encontrado. O remetente é um preso detido numa penitenciária do interior. "A próxima execução do plano em tela, ou seja, a desestruturação do sistema, comandada por mentes altamente diabólicas, será de fora para dentro. A verdadeira 'super-mega'", escreve.
'Seja breve ou nada poderá ser feito'.
"O inferno poderá chegar a qualquer momento (...). O caso é da mais alta gravidade, com retaliações internacionais. É difícil pautar uma denúncia evasiva, mas te digo que estou vendo e vivendo em meio a um grupo altamente organizado e com grandes ambições", informa. No documento, o autor cita o padre Marcelo, dizendo que gostaria de falar com ele pessoalmente, mas não revela por quais motivos.
"Você está sendo minha última busca. Pelo amor de Deus, seja breve ou nada poderá ser feito. Tenho subsídios para o desmantelamento dessa hedionda organização."
Policiais do Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado (Deic) e promotores do Grupo de Atuação Especial de Repressão e Combate ao Crime Organizado (Gaeco) negaram ter recebido informações sobre possíveis planos da facção. Segundo policiais do Deic, o PCC não tem o hábito de anunciar antecipadamente seus planos. "Eles podem assumir o ato depois. Um exemplo disso é a morte do juiz corregedor Antônio José Machado Dias", disse um policial.
O juiz corregedor Evandro Takeshi Kato, da comarca da região onde o autor da carta está detido, confirmou ter recebido as denúncias do preso e disse que vai ouvi-lo na próxima semana.
Fonte: Jornal da Tarde