Namorados têm seus pequenos gestos de afeto. Sutis e quase imperceptíveis a todos os outros mortais, estes gestos são declarações silenciosas de amor, perdão e cumplicidade. Aline, minha namorada, e eu, também temos os nossos.
Há algumas semanas nos desentendemos. Coisa muito corriqueira entre namorados. Um diz "A" e o outro "B", um está cansado e o outro preocupado, então nos aborrecemos e nos magoamos. Naquela noite, fui dormir muito triste pensando em quem estaria com a razão. Fiquei por alguns minutos, antes de pegar no sono, revendo mentalmente nossos diálogos. Acordei bastante chateado e com a certeza de que não importava muito quem estava certo. Eu iria passar o dia escrevendo alguns arranjos para o "Deus é Dez" e quase todo tempo ensaiando no estúdio. Quando nos veríamos? Meu coração estava tão apertado que, embora fosse sete e meia da manhã, resolvi fazer-lhe uma surpresa e mandei-lhe um telegrama muito simples, mas que dizendo tudo o que estava sentindo: "Me perdoe. Eu te amo! Um beijo, Guto". Mais tarde ela me encontrou no estúdio e não havia muito mais a ser dito. Nos olhamos, nos abraçamos e sabíamos que a paz e o amor estavam restaurados.
À noite, em minhas orações, veio à minha mente este pensamento: um telegrama para Deus. Muitas vezes, na pressa, não lembramos de expressar nosso amor, nosso pedido de perdão e nossa gratidão a quem nos ama infinitamente. Ele, que é nosso Principio e Fim, fonte de todo amor. Andei pela casa vazia sem acender as luzes. Todos dormiam. Lembrei-me do Cristo retirando-se no meio da noite para rezar. Meu coração estava apertado novamente. Então, pela janela da sala, olhando as estrelas, eu escrevi em meu coração uma silenciosa declaração de amor a Deus.